segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MOVIMENTE-SE!

Obax anafisa.
Bom 2014!


Dia desses estava conversando com um amigo sobre dançar. Eu lhe dizia que se ele pensa que dançar era só chegar à sala, se alongar e começar a se movimentar, estava muito enganado. Pelo menos não é esta a realidade do Hibridus. Dançar, propriamente dito, é algo que conseguimos após muita luta e esforço. Depois de onze anos percebemos que não somos apenas bailarinos, dançarinos, artistas da dança, cidadãos dançantes – seja lá qual for a nominação –, mas sim criadores, formadores (seja de opinião ou de público), gestores-administradores, comunicadores, produtores, contadores. Enfim, artistas de várias artes, polivalentes.
Quando se fala em onze anos, parece que faz muito tempo, mas passou tão rápido e, como o corpo, estamos, agora, entrando na pré-adolescência, este corpo – o Hibridus – está em pleno processo de transformação e maturidade. Sempre atento ao lugar onde está. Esta terra de intenso calor, também em pleno processo de crescimento e de uma manufatura que é densa, dura, quente e fria: o aço. Dançamos nossas alegrias, fraquezas, tristezas, forças; nossos sonhos e desejos. Dançamos nossa verdade (ela agrade ou não). Fomos criando e fortalecendo relações e parcerias com nossa cidade e com várias outros municípios e países.
BOTELHO, 2013.


A jabuticabeira em flor entre as pitangueiras na chuva sob o luar.
Pelo verso acima que criei de brincadeira (mas quase toda brincadeira minha é séria; e essa é) convido a cada um se imaginar um pomar com uma chuvinha agradável. Acima de si há nuvens chuvosas e acima das nuvens o mais límpido e belo luar. Eis-te! Eis-me! Eis-nos! Ou então...
Ou então imagine outra coisa. Um rio, por exemplo.
Um rio, não! O rio.
O rio não dorme em seu leito. Há uma confusão de águas a bailar. Alguém pergunta a um peixe:
- Não é confuso viver no rio?
- Como? O que é um rio?
- Isso onde você vive e vê a sua volta é um rio.
- Não, não vejo nada. Não há nada ao meu redor. Então não é um rio. Não existe isto. É bobagem acreditar no contrário.
- Como pode dizer isso? – Fala com um riso leve e zombeteiro. – Essa coisa fluida ao seu redor, onde você nada e só pode viver dentro é um rio, é o rio.
- Não, não existe isto. É a verdade. É só o que existe. Não há mais nada além dele. É bobagem acreditar no contrário.
E o peixe nada no nada enquanto quem pergunta fica só.
E eu, testemunha involuntária, fico ensimesmando em mim.
E eu... Escrevo!
E você, meu pé de jaca em flor em um intervalo entre uma chuva e outra numa manhã pós Natal, posso perguntar o que faz? Mais importante, você se pergunta, se importa? Enquanto pensa, digo que estou lendo ao mesmo tempo uma média de trinta livros. Às vezes fico uma semana sem olhar para um deles, mas não consigo me focar em um só. Sinto-me um rajá em um harém de livros.


Ofereço como presente de aniversario a:
Kívia Kiara, Joaquim Tiago (Bill), Ivanete Valverde, Melyssa Freitas, Gustavo A. Spada, Gilberto Weber, Nathy Costa, Andreia Bragança, Maximiano Lagares, Felipe L. Freitas, Homero Dias, Gustavo Soares, Sarah Helena, Samanta Bela, Vilma Escarlate e Marilélia R. Ezequiel.
E sucesso para AJSI-Regional MG-Gov. Valadares, Medipa Saúde Ocupacional, Sabor de Casa ArtCosinha.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.
Veja mais a respeito:

Escrito entre 06 de novembro e 30 de dezembro de 2013.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


BOTELHO, Luciano. Movimente-se!. Feicebuque: 20 Nov. 2013. Luciano é artista da dança.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

VANAS PENAS DE AMOR

Obax anafisa.


Yo tendría que haberle dicho
lo mucho
que le tengo reservado
en mí futuro.
No pude.
La mano de la vida real
me retuvo
en sus garras.
Ella, por la demás,
Andaba muy agarrada
comiéndose a otro hombre
a besos.

Foix


Abelhas voam, mas aconteceu uma rifa. Agora um roque gringo soa mecânico. Indiferente, uma palmeira balanga ao vento enquanto penso se escrevo em português ou se em espanhol. Abelhas, rifas e palmeiras entram em nosso cronto enquanto a caipirinha se vai garganta abaixo, um golezinho só, mas desce indiferente. Incluso a mim, que a sorvo.
En la fiera yo miro el tiempo y no conozco nadie.
A decepção me fez descrente. Então penso em abrir uma igreja e criar meus próprios crentes.
Artistas que tiempos pasados conocí aún más jóvenes que yo hoy viven con la plata que podría ser de más gente. –A ellos platas y a nosotros plátanos–. Soy un tonto y el dolor de no estar borracho me hiere. No nadé en plata y me ahogo en el charco de los nadies.
Hablan que soy alguien, mas sou apenas uma palmeira ao vento num domingo a tarde.
Para que escrevo? Talvez para melhorar o mundo ou para justificar minha presença. Mas o vento balanga indiferente os galhos das árvores.
Sin embargo, tres niños adoptan dos cachorros de gato mallado, blancos y negros. Y… e abelhas voam. Indiferentes.


Ofereço como presente de aniversario a:
Mayron Engel, Fabiana Ribeiro, Alison W. Martins, Juliana Novaes, Mª Clara Martins, Natalia Coutto, Jhoyce Oliveira, Deiverson Tófano, Ederson Caldas, Artur Freitas e Tatiana C.S.V. Brandão.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.

URDIDUMBRE es un ebook de poesía para exorcizar lamentos de amor, rabia y dolor exacerbado a través de sentimientos apurados y de uno posicionamiento significativo en el mundo.
Obra bilingüe (español y portugués) de Rubem Leite; publicada por la editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustración de Bruno Grossi. Revisión de Cida Pinho y Lilian Ferreira.

Veja mais a respeito:

Escrito entre los días 03 de noviembre y 16 de diciembre de 2013.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.


FOIX, Vicente Molina. Vanas Penas de Amor. España: Plaza janés, 1998.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

FLOCOS DE ALGODÃO DE PAINEIRA

Obax anafisa.


Entretido em si mesmo talvez alguém viva a sua vida. Um grupo grande de jovens fumando, bebendo, tocando violão, beijando, conversando sequer enxerga o parque.
Entre eles, na parte mais externa, debaixo de três árvores de grandes folhas verdes, flores laranjas, vermelhas e brancas há um casal. Ela é bonita, cabelos pretos, olhos também, blusa vermelha, saia azul e sorriso tranquilo. Ele não é feio, cabelos pretos curtos, curtíssimos, barba preta cerrada, grande, blusa verde bandeira e calça lilás. Conversam baixo sobre sua noite, a dos dois. Ninguém percebe uns flocos de algodão de paineira que voam sobre eles.
- Você tem de confiar em mim, rapaz. Eu sou macho. – Do meio do palco do teatro de arena a voz de Pedro se sobressai no grupo. Ele, de cabelos loiros e sem camisa, veste uma jardineira amarela e desembala um picolé de limão enquanto segura um baseado e fala para Ricardo. Garoto de cabelos crespos, bela pele de chocolate, bermuda laranja e camiseta azul marinho. – Tem que confiar em mim. Sou do que der e vier e – diz rindo – dou conta do recado. Né, Mayra?
A garota sorri seu sincero sorriso doce, levanta-se e se afasta do barbudo indo até o namorado dar-lhe um beijo debaixo de uns flocos de algodão de paineira.


Ofereço como presente de aniversario a:
Lucas Alvisi, Renata Sousa, Dado Aragon, Fábio S. Rodrigues, Gerci Santos, Thaylyny Emanuela, Wyllon Jheffer, Graciela Pedra, Rodrigo P. Di Stani, Renata Matos, Clayton Heringer, Hagios Companhia e Troperia Cook d Minas.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.

Escrito entre os dias 20 de outubro e 16 de dezembro de 2013.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

LOS FANTASMAS DE ALAS BLANCAS

Obax anafisa.


Em português:

Na horta um casal de alfaces apaixonados conversavam com alegria em uma noite de lua cheia quando a cozinheira da casa grande as colheu para uma salada. Foram tão tristes suas mortes que se transformaram em brancas corujas e todas as noites de lua cheia os fantasminhas das alfaces-corujas vão até a cozinheira... e ela fica sempre tão assustada que até perde a voz e sente dor de garganta.


En español:

En el huerto una pareja de lechugas enamoradas charlaban con alegría en una noche de plenilunio cuando la cocinera de la grande casa las consechó para una ensalada. Fue tan triste sus muertes que se cambiaran en blancas lechuzas y todas las noches de luna llena los fantasmitas de las lechugas lechuzas van hacia la cocinera… y ella se queda siempre tan asombrada que hasta pierde la voz y con dolor en la garganta.


Ofereço como presente de aniversario a:
Alfredo Pires, Biblioteca Leitura e Olhares, Chimeni Lins, Camila Santos, Rayssa Rangel, Nubia Teodoro, Arlete Santos e Ione Domont.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilíngüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.

Escrito originalmente em espanhol e entre os dias 08 de outubro e 09 de dezembro de 2013.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

¿POR QUÉ NO TE CALLAS?

Obax anafisa.


Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores.
Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
LISPECTOR


Em português

- Veja! A árvore de folhas verdes olha para o céu e tenta levantar seus galhos até alcançá-lo, mas não consegue. Apenas o olha sem ser visto. Entretanto, um de seus galhos, o mais seco, o único seco, se abaixa até o chão e acaricia a grama. Então sorri enquanto o céu chora.
- Belas palavras! Seus sonhos são bonitos, mas você me irrita. Então os abortei e comi.
- Uma flor amarela fenece e esvoaça até o chão. Em seu lugar na árvore uma fruta nasce, cresce e morre. Cai onde estava a flor, sua mãe. Nasce, cresce e vive.
- E continua falando? Democracia não é jogo. É uma forma de convivência das diferenças¹.
- A planta convive com outras e o jardim, bosque ou floresta é fauna, flora e mineral. E o papagaio urbano fala da natureza que não conhece.
- Você fala e não diz nada.
- O vento sopra, a cachoeira cai. Quem escuta?
- Vou-me embora. Não tenho que te escutar. Até nunca mais.
- O urubu voa em círculo sem ter sido convidado. Mas os vivos o enojam e ele se retira.


En español

- ¡Ojo! Él árbol de hojas verdes mira el cielo e intenta arribar sus ramas a él, pero no logra. Solamente lo observa sin ser visto. Sin embargo, una de sus ramas, la más seca, la única seca, se baja hacia el suelo hasta acariciar la hierba. Entonces sonreí mientras el cielo lloraba.
- ¡Bellas palabras! Sus sueños son bonitos, pero usted enójame. Entonces hice de ellos la ternera de mi cena. ¡Y la comí!
- Una flor amarilla fenece y vuela hacia la tierra. En su lugar en el árbol una fruta nace, crece y muere. Cae donde estaba la flor, su madre. Nace, crece y vive.
- ¿Y continua hablando? Democracia nos es juego. Es una forma de convivencia de las diferencias.
- La planta convive con otras y el jardín, bosque o floresta es fauna, flora y mineral. Y el papagayo urbano charla de la naturaleza que no conoce.
- Usted habla y no dices nada.
- El viento sopla, la cascada cae. ¿Quién escucha?
- Yo me voy. No tengo que escucharte. ¡Hasta nunca!
- El buitre vuela en círculos sin haber sido invitado. Pero los vivos lo enojan y él si aleja.


Ofereço como presente de aniversário:
Edivane Ribeiro, Juliana Queirós, Cleide Takahashi, Marcelo Vieira, Alejandro Vera, Lorrayne Carvalho, Claudiney de Sá, os irmãos Walington e Welington G. Silva, Patrick Silva, Lucas B.M. Alto, Larissa SA, Maxwell Antunes, Kerley H.M. Almeida, Ricardo Escudero, Sérgio Lopes, Regina T.P. Simão e Ligia Mara.

Escrito entre los días 25 de septiembre y 02 de diciembre de 2013.

¹ “Democracia não é jogo. É uma forma de convivência das diferenças” é um trechinho da palestra “Conselheiro de cultura, o desafio de participar e representar”, ministrada na Câmara Municipal de Ipatinga por José Márcio Barros na manhã de 22-11-13.


LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Conto Amor.