domingo, 24 de abril de 2016

OLHOS COMEMORÁVEIS

OJOS CELEBRABLES


Potira itapitanga.


Em português

No Feirarte, em pé diante da barraca do Marcelo, aguardo minha bebida admirando um casulo em uma samambaia.
- Benito! Sua bebida.
- Que linda!
- Como pediu, pouco doce. Entretanto tem morango, maracujá, hortelã e quase nada de vodca.
- Obrigado, Marcelo!
“Lóri, como foi sua semana?” – Pergunto assim que vejo que chegou e ele me responde: “Cansativa! A política me aborrece demais. Vemos cada coisa...”.
- Já escutei que a vida é política... Mas penso que a política não é pela vida.
No tempo em que falo chega nossa amiga Solange com Deusdeth, seu marido. Ambos vão para uma mesa próxima e logo nos juntaremos a eles. Enquanto se sentam Lóri diz para nós três:
- O escritor João Guimarães Rosa disse que “viver é perigoso”.
- Confirmando as palavras dele – acrescenta Solange – “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.
Alguém pede uma bebida e Marcelo o atende. Aproveito para me sentar também, mas sem deixar de ver que próximo do casulo e das flores ao seu redor, uma borboleta colorida voa. Bebo um pouco e tiro da bolsa dois livros e meus óculos.
- Sexta passada o Brasil fez quinhentos e dezesseis anos. – Digo. – Muita gente comemorou uma data inventada por alguém do USA. Ninguém sequer comentou o Brasil. Um dos meus sonhos é que paremos de imitar os gringos e amemos mais a nossa pátria.
- O que comemoramos foi o feriado do dia anterior. Não foi sequer o Tiradentes.
- Não comemorei por entender que o descobrimento aconteceu bem antes da chegada dos portugueses. – Fala-nos Solange.
- Ainda assim é a nossa pátria. – Intervém Lóri. – As causas que formaram o Brasil não muda o que somos: brasileiros.
- Lógico, eu compreendo o quer dizer. Mas, não podemos esquecer-nos de aqueles que já habitavam o nosso país. Comemoraria a chegada dos portugueses, não o descobrimento.
- Sempre falo que foi uma invasão, não o descobrimento. Mas mesmo pela forma horrível, ainda assim é o que nos formou. E não somos mais horríveis que nenhum outro país. E nenhum foi feito de forma bela. Ainda assim e talvez por isso acho comemorável o 22 de abril.
Um casal se aproxima do Feirarte desviando o meu olhar. Uma garota linda em uma calça preta, camisa verde escura com estampa verde clara e longos cabelos negros. E um rapaz em cadeira de rodas, camisa vermelha, jeans e escuros cabelos curtos.
Nossos olhos se encontram. Dela eu vejo interesse. Dele, timidez. E de mim, desejo pelos dois.
O olhar, o sorriso, o andar dela parecia uma mensagem. Os dele também. Mas ainda não sei que mensagem...
- O Que está escrevendo? – A garota que estou namorando e que aguardava pergunta-me ao chegar. Sem esperar resposta, ela e o pessoal se cumprimentam.
- Nada de ninguém. Uns esboços de quaisquer ideias.
- Posso lê-las?
- Sim, claro! Mas… Eu gostaria mais é de uns beijinhos.
Sorrimos. Ela esquecendo; eu tenso. Nossos lábios se tocam e os olhos meus e do casal se beijam. E Solange só observando-nos.


En español

Delante el quiosco del Marcelo aguardo mi bebida admirando un capullo marrón en un helecho.
- ¡Benito! Tu bebida.
- ¡Qué bella!
- Cómo pidió, poco dulce. Sin embargo, lleva frutilla, maracuyá, hierbabuena y casi nada de vodka.
- ¡Gracias, Marcelo!
- Lori, ¿qué has pasado esa semana? – Pregunto así que lo veo.
- ¡Cansancio! La política es muy aburrida. Vemos cada cosa…
- He escuchado que la vida es la política… Pero, pienso que política no es por la vida.
- El escritor brasileño, João Guimarães Rosa, dice “vivir es peligroso”.
- ¡Verdad! Y dice también “Yo casi nada sé. Pero, desconfío de muchas cosas”.
Alguien pide una bebida y Marcelo lo atiende. Alrededor del capullo y de las flores cerca, una mariposa multicolor vuela. Sorbo un poco y nos vamos hasta la mesa, sentamos, quito de mi bolso dos libros y mis gafas.
- Viernes pasado Brasil completó quinientos dieciséis años. Muchas personas celebraron una fecha inventada por alguien de EEUU. Nadie siquiera comentó el Brasil. Uno de mis sueños es que no más imitemos los gringos y amemos más nuestra patria.
- Nuestra celebración fue el festivo del día anterior. Ni siquiera el Tiradentes¹.
- No lo celebré por entender que el descubrimiento aconteció mucho antes de la llegada de los portugueses. – Nos habla Marcelo.
- Todavía así es nuestra patria. – Interviene Lóri. – La manera como ha sido formada no cambia lo que seamos: brasileños.
- Lógico, comprendo lo que decís. Sin embargo, no podemos olvidarnos de aquellos que acá ya vivían. Celebraría la llegada de los portugueses, no el descubrimiento.
- Siempre hablo que el ocurrido fue una invasión, no el descubrimiento. Pero, mismo a través de una manera horrible, ha sido así nuestra formación. Y no somos más horribles que ningún otro país porque ningún ha sido creado de forma bella. Todavía así y quizá por eso pienso celebrable el 22 de abril.
Mientras hablo, una pareja se acerca del Feirarte desviando mi mirada. Una muchacha guapa en pantalón negro, camisa verde oscura con estampa verde clara y largos pelos negros. Y un muchacho en silla de ruedas, camisa roja, vaquero y corto pelos negros.
Nuestros ojos se encuentran. De ella veo interés. De él, timidez. Y de mí, deseo por los dos.
La mirada, la sonrisa, el andar de ella parecía un mensaje. De él también. Todavía no sepa cual mensaje…
- ¿Qué escribís?
- Nada de nadie. Unos esbozos de ideas cualquieras.
- ¿Puedo leerlas?
- ¡Claro! Pero… Me gustaría más unos besitos.
Sonreímos. Él olvidando; yo tieso. Nuestros labios se tocan y los ojos míos y de la pareja se besan.


Ofereço como presente de aniversário
Daniel Bastos, André Graciano, Luzineth F. Alves, Jorge Horta, Juliana Furtado, Andre Andrade, Ana L. Guimaraes, Jacqueline Silva, Elizangela Batista e Térsio Greguol.

Recomendo a leitura dos poemas de Pedro Du Bois e do Vinicius Siman, respectivamente:
http://siman.blogs.sapo.pt/poema-vazio-48010

¹ Tiradentes es el sobrenombre de Joaquim José da Silva Xavier, uno de los más importantes personajes históricos del Brasil. La palabra “Tiradentes” podría ser traducida por “Sacadientes” porque era una de sus profesiones. Él fue preso por luchar por la independencia del Brasil y el único a morir por eso (no tenía grandes influencias económicas ni políticas) sin embargo, era un gran comunicador, orador y con grandes capacidades de organizar y liderar.

Escrito originariamente en español en el fin de la mañana de 02 de agosto de 2015. Y trabajado en las dos lenguas entre los días 04 de agosto de 2015 y 24 de abril de 2016.

domingo, 17 de abril de 2016

PARQUE ABAÇAICÁ

PARQUE ABAZAICÁ


Potira itapitanga.

... Nem política. Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma ideia especial a esses vocábulos.
- Nenhuma filosofia?
- Entendamo-nos: no papel e na língua alguma, na realidade nada. “Filosofia da história”, por exemplo, é uma locução que deves empregar com frequência, mas proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc.
Machado de Assis.


Em português

Em casa cheguei atrasado. Primeiro porque a igreja estava animada com muita música, dança e o pouco sermão dizia quem são as más pessoas. Depois por causa dos beijos de Meirinha. Ela tinha cabelos crespos e ruins... Seus cabelos me faziam cada maldade de tanto que me atiçavam... Rerrê. Mas isso seria outra história. Mas nada mais sério que ações de adolescentes religiosos e bons.
Meu pai, nervoso por minha demora, me entregou uma nota de cem e entramos no carro que nos levaria ao local de embarque para a excursão promovida pela igreja. Surpresa boa. Não sabia, mas no ônibus estavam alguns conhecidos. Janete, Cinara, Marivalda, Glauss, Erikis e Siman. Quis sentar com Meirinha, mas não deixaram... Então ela ficou ao lado de Janete e eu fiquei com Siman.
Viagem agitada; muita divertida. Mas de tão longa acabei dormindo. Acordei quando nos acostamos. Saímos do ônibus junto com o sol de uma bela manhã. Pegamos as filas para entrar no Parque Abaçaicá. Local com todo tipo de diversão. Exposição, ciência, brinquedos, cachoeiras, matas com animais selvagens e muitas outras coisas.
O dia passou e eu regulando meu dinheiro, mas me divertindo o máximo possível. E como me diverti. Ora me encontrei com Janete e tomamos um sorvete juntos e fomos a uma barraca repleta de gente. Nela tinha um gás em uma lamparina que acendíamos para escrever o que quiséssemos em um papelzinho. Já em uma barraca de doces me encontrei com Cinara e Marivalda e compramos docinhos de caju bem amarelinho com brilho dourado. Delícia! Pena que não deu para visitar a parte de ciência. Mas não teve problemas. Ela foi até nós.
Anexo aos laboratórios fica o “Circo dos Horrores” e na entrada da tenda me encontrei com Siman e Glauss. Era uma apresentação de horror. Divertirmos bastante. Alguns zumbis corriam atrás de nós. Eram bem realistas e entre os gritos de medo ríamos bastante. Três mortos vivos se aproximaram de mim e meus amigos. “Você é cientista?”, perguntou ao Glauss. “Sentimos cheiro de cientista”.
- Sou! Ou quero ser. Estou no terceiro período de química industrial. E desde adolescente fui bom em biologia e química. Sempre notas máximas nas duas.
Rindo feio, os três zumbis nos disseram que isso era muito bom. Quando um zumbi mal enjambrado me atacou; eles os expulsaram e depois disseram seus nomes: Jef, Adriano e Alvino.
- Preocupa não. Ele é um dos babaquara. Não tem o tratamento que nós, baquaras, temos. – Mostra um buraco na testa feito com perfuradora médica. – Nenhum dos babaquaras tem boca. Podem ficar tranquilos. Por hora...
Olho para eles e percebo que a maquiagem é bem feita. Não se vê mesmo o maxilar inferior nem os dentes de cima.
- Sabe o que comemos? – Alvino, o mais alto diz rindo feio.
- Carne humana? – Falo meio nervoso, mas entrando no clima da apresentação circense.
- Carne humana! – Confirma Jef, o mais magro deles. E o baixinho e gordinho – ou seria inchado? – completa:
- Nós tiramos alguns humanos do curral e os levamos para nosso... am... refeitório e nos servimos. E saem rindo feio enquanto rimos nervosos do que nos pareceu piada horrível.
Na excursão pela mata fui com Glauss e Siman e encontramo-nos com Erikis. A gente viu lobo guará, tatu, capivara, preguiça, araponga. Voltamos na hora de partir. Mas... Cadê os ônibus? Por que não conseguimos sair do Abaçaicá? Enquanto perguntávamos, um grupo de gente fedorenta, suja, ferida foi nos atacando, machucando, acossando em uma direção. Quem reagia eles matavam a dentadas. Eram os baquaras... E foi exatamente a gritaria, confusão e desespero que você está imaginando de tanto ter visto nos filmes.
Conduziram-nos à parte de ciências; para um setor fechado ao público e lá nos prenderam em jaulas. Junto comigo ficaram meu irmão, Erikis, Vinicius e alguns estranhos. Glauss eu não vi. Que aconteceu com ele? Também não vi o resto de minha família. Onde estarão?
Duas vezes ao dia os babaquaras colocavam uma espécie de ração em cochos e comíamos com as mãos. Passávamos os dias e noites assim, esperando a vez de pegarem alguns de nós e vendo novas levas de gado chegando. Cuidado! Não vá ao Parque Abaçaicá ou talvez você venha a ficar entre a gente. Cuidado! – Barulho da porta se abrindo. – Meu Deus! Parece com... – A jaula se abre.


En español

Llegué en casa con retraso. Primero porque la iglesia estaba animada con mucha música, danza y el poco sermón hablando quién son las malas personas. Después debido a los besos de Meirita. Ella tenía pelos crespos y malos… sus pelos me hacían cada maldad de tanto que me atizaban… ¡Jejé! Pero, eso sería otra historia. Sin embargo, nada más serio que acciones de adolescente religiosos y buenos.
Mi papá, nervioso por mí dilación, me entregó cien pesos uruguayos y cogemos el coche que nos levaría hasta el sitio de embarque para la excursión promovida por la iglesia. Sorpresa buena. No sabía, pero en el autobús estaban algunos conocidos. Janet, Cinara, Marivalda, Glauss, Erikis y Siman. Deseaba sentarme con Meirita, pero no dejaron... Entonces ella se sentó con Janete y me quedé con Siman.
Viaje inquieto; mucho divertido. Pero, de tan luenga me acabé durmiendo. Desperté cuando nos acostamos. Salimos del autobús al mismo tiempo que el sol de una bella mañana. Cogemos las colas para entrar en el Parque Abazaicá. Lugar con todo tipo de diversión. Exposición científica, juguetes, cascadas, bosques con animales salvajes y mucho más cosas.
El día pasó y yo regulando mi dinero, pero divirtiéndome el máximo posible. Y cómo me divertí. En un momento me encontré con Janet y probamos un helado y fuimos a un quiosco cargado de gente. En él tenía un gas en una lamparilla que encendíamos para escribir lo que quisiésemos en una hojita. Ya en un quiosco de dulces me encontré con Cinara y Marivalda y compramos dulcitos de almendra todo amarillo y con brillo dorado. ¡Exquisito! Triste que no fue posible visitar el sitio científico. Sin embargo, él fue hasta nosotros.
Anexo a los laboratorios se queda el “Circo de los Horrores” y en la entrada de la carpa me encontré con Siman y Glauss. Era una presentación de horror. Divertimos bastante. Algunos zombis perseguían los visitantes. Eran muy realistas y entre los gritos de miedo reíamos bastante. Tres muertos vivos acercaron a mí y mis amigos. “¿Tú eres científico?”, preguntó a Glauss. “Sentimos olor de científico”.
- ¡Sí! O quiero venir a ser. Siempre he sido bueno en biología y química. Desde adolecente notas máximas en las dos. En el prójimo semestre empezaré mis clases del tercer período de química industrial en la universidad estatal.
Riendo feo, los tres zombis dijeron que eso era bueno, mucho bueno. Cuando un zombi alabeado me atacó; ellos los expulsaron y se presentaron: Jef, Adriano y Alvino.
- No se turbe. Él es uno de los babacuaras. No tiene el tratamiento que nosotros, bacuara, tenemos. – Exhibe un agujero en la frente hecho con una barrena médica. – Ningún de los babacuaras tiene boca. Pueden se quedar tranquilos. Por hora…
Miro a ellos y percibo que el maquillaje es bien hecho. No se ve mismo el maxilar inferior ni los dientes de arriba.
- ¿Sabe lo que comemos? – Alvino, el más largo dijo riendo feo.
- ¿Carne humana? – Contexto levemente nervioso, pero entrando en el clima de la presentación circense.
- ¡Carne humana! – Confirma Jef, el más flaco de ellos. Y el gordito y bajito – ¿o seria hinchado? – completa:
- Nosotros sacamos algunos humanos del corral y los llevamos para nuestro… an… comedor y nos servimos. Y salen riendo feo mientras reímos nerviosos del chiste.
En la excursión por el bosque fue con Glauss y Siman y nos encontramos con Erikis. Vimos el lobo guará, armadillo, jaguar, perezoso, pájaro campana. Volvemos en la hora de partir. Pero… ¿Dónde están los autobús? ¿Por qué no conseguimos salir del Abazaicá? Mientras cuestionábamos, un grupo de gente pestilente, sucia, herida fue atacándonos, dañándonos, acosándonos en una dirección. Quien reaccionaba ellos mataban a dentadas. Eran los bacuaras… Y fue exactamente la gritaría, confusión y desespero que tú estás imaginando gracias a las películas que has visto.
Nos condujeron al sector de las ciencias; para un sitio prohibido al público y allá nos prendieron en jaulas. Junto conmigo pusieron mi hermano, Erikis, Siman y algunos extraños. Glauss no he visto más. ¿Qué ha acontecido a él? También no he visto el resto de mi familia. ¿Dónde estarán?
Dos veces al día los babacuaras ponían una especie de ración en pesebres y comíamos con las manos. Pasábamos los días y noches así, esperando la vez de cogieren algunos de nosotros y viendo nuevas levas de ganado llegando. ¡Cuidado! No se va al Parque Abazaicá o tal vez tú se quedará entre nosotros. ¡Cuidado! – Ruido de la puerta abriéndose. – ¡Dios mío! Se asemeja a… – El jaula se abre.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Grasielle Severo, Maxwel Lopes, Scida Lopes, Joana Sousa, Luzia Di Resende, Fernando Marinho, Isabella Ribeiro, Valdete Val, Michael Cobain, Antonio Carlos, Bispo Filho, Yuri G. Rodrigues, Meirilene Oliveira e Kênia Nicácio.

Abaçaicá = aglutinação de abaçaí y caá; respectivamente “espírito maligno que perseguia e enlouquecia os índios” e “mato ou folha”. Babaquara = palavra indígena brasileira que significa “tolo, aquele que não sabe de nada”. Baquara = palavra indígena brasileira que significa “esperto, sabedor das coisas”. Mais informações:

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II. Teoria do Medalhão.


Escrito partindo de um sonho na madrugada de 04 de agosto de 2015. Trabalhado entre os dias 11 de fevereiro e 17 de abril de 2016.

domingo, 10 de abril de 2016

PARA ONDE VOU?

¿PARA ONDE ME VOY?


Obax nafisa.

Que me importa não tragas brilhantes,
Refulgindo no teu colo nu?
Tens nos olhos as jóias vibrantes,
E a mais nítida pérola és tu.
Pobre sou, pobre quero ajoelhado,
Como um cão amoroso, a teus pés,
Viver só de sentir-me adorado,
E adorar-te, meu anjo, que o és!

ASSIS, 1881.


Em português

A meia noite está carregada de nuvens escuras escondendo a lua cheia que se esforça para iluminar a Terra. Caminho nas ruas e ao redor cachorros vira-latas farejam comida e mijam em tudo. Uma sombra passa por mim, mas nada vejo. Não sei de onde vem e para onde foi. Nem se de fato havia uma sombra me procurando.
- Que é isso em sua perna?
Saindo do nada, dois amigos que não via a muito tempo me perguntam. Uma ferida que não me lembro como apareceu e que a cada dia crescia mais.
- Isso é raiva e ódio. – A mulher nos fala e o homem completa: Os maus sentimentos surgindo na carne...
Uma sombra passa pela gente, mas ninguém vê. Não sei de onde veio e para onde foi. Nem se de fato havia uma sombra.
- A sombra... Não têm medo?
Nada respondem. Somente me olham como seu eu fosse louco. Então saio correndo entre os cachorros e debaixo da lua coberta por nuvens. Minha casa! Finalmente minha casa. Olho atrás de mim e a sombra... A sombra me olha. Tento abrir a porta e não consigo. “Maldito desespero que nunca ajuda!”, penso. Olho atrás e a sombra está mais perto. Não a vejo mover-se, mas caminha devagar. A porta se abre e entro suando. Tranco a porta, acendo a luz e... e suspiro aliviado. Tudo igual e seguro. Mas, ainda nervoso ligo a televisão para ter algum som. Não há programação, somente o ruído de estática. Todavia isso é melhor que o silêncio... Tiro minhas roupas e vou tomar um banho e depois esquentar algo para comer. No banheiro escuto saindo de nenhum lugar a música clássica do filme Psicose e começo a rir da tolice... ou será loucura?
Nu eu me sento à mesa para jantar lendo o conto A Mulher Pálida, do escritor brasileiro Machado de Assis. Penso: Curioso! Excetuando as dimensões, o quarto do Máximo é parecido com minha casa; até o endereço. “O alinho na miséria”. Continuo a leitura. Bem que eu também podia herdar alguma coisa boa... Algo que me permitiria suportar as vinte horas de escuridão de todos os dias. Penso; olho ao redor; e a janela, demoradamente a observo. Mas, protegidas com grades e tampadas com taboas eu não podia olhar a rua. Que os defuntos apodreçam, penso enquanto leio; ninguém me deu nada na vida. Que inveja do Máximo que não sofre nada. Olho minha perna. Ainda bem que assim como eu ele foi repudiado por uma garota. Rarrá! Mas, penso como o senhor, rapaz. As mulheres nos devem completa obediência. Porra! Como quero um cigarro. Serei um grande poeta ou, como Máximo, somente acredito tolamente que sim?
Batidas na porta. Vinicius Siman, o personagem que fala conosco, a olha tenso. Será uma mulher pálida?
- Vinci, I am Jhordan! Your Girlfriend. Open the door for mi, sweet.
Ela me diz em sua língua e não na minha. Meu pau dá sinal de vida enquanto meu coração palpita nervoso fazendo uma música com as batidas e com a voz. Ponho-me de pé, olho por todo o quarto, olho a porta, olho a faca de prata na mesa, olho a porta e... ando.


En español

La medianoche está cargada de nubes oscuras ocultando la luna llena que se esfuerza para iluminar la Tierra. Camino en las calles y alrededor perros callejeros husmean comida y mean en todo. Una sombra pasa por mí, pero nada veo. No sé adónde vino y adónde fue. Ni sé se de facto había una sombra buscándome.
- ¿Qué es eso en su pierna?
Saliendo do nada, dos amigos que no vía a mucho tiempo me preguntan. Una herida que no recuerdo como apareció y a cada día crecía más.
- Eso es rabia y odio. – Chárlanos la mujer y el hombre completa: Los malos sentimientos surgiendo en la carne…
Una sombra pasa por nosotros, pero nadie veo. No sé adónde vino y adónde fue. Ni sé se de facto había una sombra.
- La sombra… ¿No tienen miedo?
Nada responden. Solamente me miran como se yo fuera loco. Entonces salgo corriendo entre los perros y debajo de la luna cubierta por las nubes. ¡Mi casa! Finalmente mi casa. Miro tras mí y la sombra… La sombra me mira. Tiento abrir la puerta y no consigo. “¡Maldito desespero que nunca ayuda!”, pienso. Miro tras y la sombra está más cerca. No la veo moverse, pero camina espaciadamente. La puerta se abre y me adentro sudando. Atranco la puerta, enciendo la luz y… y suspiro aliviado. Todo igual y seguro. Pero, todavía nervioso conecto la televisión para tener algún sonido. No hay programación, solamente el ruido de estática. Sin embargo, es mejor que el silencio… Quito mis ropas y me voy a ducharme y después calentar algo para comer. En el baño escucho saliendo de ningún sitio la música clásica del filme Psicosis y empiezo a reír de mi tontería. ¿O será locura?
Desnudo me siento a la mesa para cenar leyendo el cuento La Mujer Pálida, del escritor brasileño Machado de Assis. Pienso: ¡Curioso! Exceptuando las dimensiones, la habitación de Máximo es semejante a mi casa; hasta la dirección. “El aliño en la miseria”. Prosigo la lectura. Bien que también podría heredar alguna cosa buena… Algo que me posibilitaría soportar las veinte horas de oscuridad de todos los días. Pienso, miro alrededor y a la ventana. Pero, protegidas con rejas y tapiadas con maderas no posibilitaba mirar la calle. Que los difuntos podrezcan, pienso mientras leo, ningún me ha donado nada. Qué envidia de Máximo que nada sufre. Miro mi pierna. Todavía bien que así como yo también fue repudiado por una guapa. ¡Jajá! Pero, pienso como usted, muchacho. Las mujeres tienen que tenernos completa obediencia. ¡Ay, caray! Como necesito un cigarrillo. ¿Seré un gran poeta o, como Máximo, solamente creo tontamente que sí?
Golpes en la puerta. Vinicio Siman, el nombre del personaje que habla con nosotros, la mira tieso. ¿Será una mujer pálida?
- Vinci, I am Jhordan! Your girlfriend. Open the door for mi, sweet.
Me habla en su lengua y no en la mía. Mi pollo da señal de vida mientras mi corazón late nervioso haciendo una música con los golpes y con la voz. Me pongo en pie, miro mi habitación, miro la puerta, miro el cuchillo de plata en la mesa, miro la puerta y… ando.


Ofereço como presente de aniversário a:
Cleria E. Dutra, Tamara Oliveira, Marcos Inter, Betina Araújo, Ricardo Tulio, Sérgio Ribeiro, Cleiton Zambianchi, Demetrios N Gualberto, Jeova P. Jesus, Thayná Macedo, Simone Távila, Mariana Dias e Alessandro Lages.

ASSIS, Machado. A Mulher Pálida. Publicado originalmente em A Estação 1881. Disponível http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=17355 . Acesso 31 Jul 2015.


Escrito originariamente en español y partiendo de un sueño en la madrugada de 31 de julio de 2015. E trabajado en las dos lenguas entre los días 20 de septiembre de 2015 y 10 de abril de 2016.

domingo, 3 de abril de 2016

A DANÇA DOS DIAS

EL BAILE DE LOS DÍAS


Pregarei a minha incoerência
na colheita da igualdade
Que se despedaça com medo
da safra do dividir.
Antonio Short

Potira itapitanga.


Em português

- Oi! – Fala ao aproximar-se. – Estava ouvindo sua risada e fiquei curioso. Do que estava rindo?
Olho o estranho sem sorrir.
- Desculpa! Não era minha intensão aborrecê-lo. Tchau.
- Não, não se vá! Não fiquei aborrecido. Somente fiquei surpreso. Não havia percebido que estava sendo visto. Sente-se!
- Licença! – Senta-se e me fala: Ria do quê?
- Estava me lembrando de uma coisa que li sobre metais. Além de não ser fácil de quebrar, tem a agudeza de uma lâmina.
- Quem disse isto?
- O poeta brasileiro Fabrício Carpinejar.
- Huuuum. Interessante. O que está bebendo?
- Algo com morango, maracujá e pimenta.
- É bom?
- Muito!
- Quero o mesmo que ele. – Fala para o Marcelo, dono da barraca, e depois para mim: Opa! A gente não se apresentou. Sou Cayo. E você?
- Benito. De onde você é?
- Sou de Angola. E você, de que lugar do Brasil você é?
- Daqui mesmo. De Minas Gerais. – Bebo um gole. – Já estive na África duas vezes; na primeira vez conheci Angola e na segunda vez visitei Moçambique e Angola. Gostei muito dos dois países.
Marcelo põe a bebida e quando ele se vai falo para Cayo.
- Palavras, disse Carpinejar, são sentimentos. Mas somente podemos senti-las quando acompanhadas. Eu gostaria muito se fôssemos como palavras.
- Eu também... Mas, você é panina?
- Não sei... O que é isso?
- Penso que vocês diriam “viado” ou “boiola”.
- Por quê? Tem antipatia ou algo assim?
- Só quero te conhecer melhor.
- Não acho que sou homoafetivo porque as mulheres também me interessam e...
Dois rapazes com jeito de mendigos loucos falam perto de nós dois:
- O mundo foi feito de dia.
- Os anjos são os jovens... E as crianças são estrelas.
- Os homens são a noite e as mulheres, o dia.
- É verdade! O mundo foi feito de dia.
- No entanto, sem noite não há dia.
- Nem dia sem noite.
- Existem eclipses em alguns momentos. O que você pensa dos eclipses?
- Do sol ou da lua?
- Os dois.
- Os dois são bonitos.
- Bonitos mesmo. Por isso o homem, que é masculino, é noite, que é feminino; e a mulher, que é feminino, é dia, que é masculino. O masculino no feminino e o feminino no masculino. Yin e yang.
- Mas, o mundo foi feito de dia.
- Do dia e da noite.
- Entretanto, existem dias, noites e eclipses.
E o sol, a lua e Terra dão seus rodopios alheios a nós enquanto olhamos a vida sem vê-la. Nem a ninguém. Nem a nós...


En español

- ¡Hola! – Habla al acercarme. – Estaba oyendo sus risas y me quedé curioso. ¿Dé que reías?
Miro el extraño sin sonreír.
- ¡Perdóname! No era mi intensión serte aburrido. Me voy.
- No, ¡no se va! No me fue aburrido. Solamente me quedé sorprendido. No había percibido que estaba siendo visto. ¡Siéntate!
- ¡Permiso! – Se tira en la silla y chárlame: ¿De qué reías?
- Me recordaba de una cosa que he leído. Respecto es de metal. No es fácil quebrar y tiene agudeza de lámina.
- ¿Quién dice esto?
- El poeta brasileño Fabrício Carpinejar.
- Huuum. Bueno. ¿Qué bebés?
- Algo con frutilla, maracuyá y pimienta.
- ¿Exquisito?
- ¡Mucho!
- Quiero lo mismo que él. – Habla para Marcelo, dueño del quiosco, y después para mí: ¡Opa! No hemos presentado. Soy Cayo. ¿Y vos?
- Benito. ¿Eres peruano?
- ¡Sí! No sos de acá, ¿sos?
- Soy brasileño.
- Me encanta Brasil. Fue allá dos veces. Una en el Rio y otra en São Paulo.
- “¡Ah! Cuantos pierden por no nacer en Minas…”.
Él me mira sin comprender la citación.
- Es un trozo de una crónica de la escritora brasileña Clarice Lispector. Recomiendo que la próxima visita tuya al Brasil sea en Minas Gerais.
Él me dice “sí” con la cabeza mientras Marcelo pone la bebida y cuando el camarero se va hablo para Cayo.
- Palabras, dice Carpinejar, son sentimientos. Pero, solamente pueden sentir acompañadas. Me encantaría y me divertiría que fuésemos como palabras.
- A mí también… Pero, ¿sos maricón?
- ¿Por qué? ¿Tiene asco o enfado?
- Solo quiero conocerte mejor.
- No creo que yo sea homoafetivo porque las mujeres también me encantan y…
Dos muchachos con aire de mendigos insanos platican cerca de nosotros:
- El mundo fue hecho de día.
- Los ángeles son los jóvenes… Y los niños son estrellas.
- Los hombres son la noche y las mujeres, el día.
- ¡Verdad! El mundo fue hecho de día.
- Sin embargo, sin noche no hay día.
- Ni día sin noche.
- Hay eclipsis en algunos momentos. ¿Qué piensas de las eclipsis?
- ¿Del sol o de la luna?
- Las dos.
- Las dos son bellas.
- Bellas mismo. Por eso el hombre, que es masculino, es noche, que es femenino; y la mujer, que es femenino, es día, que es masculino. El masculino en el femenino y el femenino en el masculino. Yin e yang.
- Pero, el mundo fue hecho de día.
- Del día y de la noche.
- Sin embargo, hay día, noche y eclipsis.
Y el sol, la luna y la Tierra giran ajenos a nosotros mientras miramos la vida sin verla. Ni a nadie. Ni a nosotros…


Ofereço como presente de aniversário:
Leopoldo Comitti, Lucio Braga, Rosane Dias, Márcio Miranda, Mithswillian Paiva, Roberta Bragança, Paskual Gomez, Delsyn Carvalhais, Marcone Alvarenga, Carlos Passos, Nívea Paula, Saad Nunes, Adalberto André, Rodrigo F.G. Fernandes, Lidia M.F Cruz e Arlete Santos.

Sobre Antonio Short:

Sobre Fabrício Carpinejar:
Sobre Clarice Lispector:


Escrito originariamente en español en la tarde de 26 de julio de 2015. Trabajado en las dos lenguas entre los días 01 de agosto de 2015 y 03 de abril de 2016.