domingo, 30 de abril de 2017

AREAL – NEVOA



Leitura do cronto pelo autor:

Ele sai de casa refletindo sobre sua mãe: “Trinta de abril... Dia Nacional da Mulher. Minha mãe, grande trabalhadora, grande batalhadora, merece o melhor; somente o melhor. E nenhum direito a menos ao trabalhador...”. Enquanto anda pelas ruas do Areal muda aos poucos de pensamento. Não se importa se a Prefeitura decidiu anexá-lo ao Imbaúbas. Ele ainda sente amor ao pequeno bairro para onde foi ainda na barriga da mãe. Orgulha-se dos nomes pátrios de suas ruas. Gosta de saber que o nome do bairro – insiste em afirmar: bairro! – vem das areias retiradas do Rio Piracicaba e que ali eram depositadas. Areal. A-RE-AL. Se encanta com a sonoridade da palavr...
De repente para e olha ao redor. “Estranho... O tempo está enevoado. Nunca vi nevoa assim”. Pensa enquanto anda até a casa de um vizinho que planta verduras e prepara temperos variados. Tudo para vender. Toca a campainha, entra quando convidado.
- O que pretende fazer em casa?
Pergunta para saber o que oferecer ao vizinho cliente. E este pensa nas carnes recém guardadas em casa:
- Vou fazer o lombo. Tô com vontade de comer com feijão tropeiro.
O vizinho pega os ingredientes no quintal, leva para perto de um aparelho eletrônico recém-comprado e, enquanto prepara os temperos para a carne, fala sobre a máquina.
- Esta menina é uma maravilha. A gente coloca tudo aqui – aponta para a parte de cima de um aparelho que parece uma geladeira –, aperta aqui – pressiona uns botões – e... “voalá”. A máquina faz uns barulhos e junta harmoniosamente a farinha, os ovos, a couve e o torresmo ao feijão.
Ele vai para casa preparar a refeição. Quando chega vê que sua mãe retornara da casa da irmã onde passara a noite. Estava nervosa, procurando o marido que, mais uma vez, lhe batera ontem.
- Fica sossegada, mãe. Que tá tudo bem. Ele “taqui”.
Abre o congelador horizontal e aponta para a cabeça do pai, separada do resto do corpo, também em pedaços. Tudo pronto para uma lauta refeição.
La fora o brilho do sol mal atravessa a estranha névoa.


Ofereço aos aniversariantes
Ana Mª Andrade, Neia Teixeira, Deusdeth J. Amorim, Fernando Viana, Cristianne de Sá, Patrícia P. Cruz, Carol Galdino, Mariana Porto, Maria M. Guimarães, Tatiane Pereira, Juliano Fernandes, Renatho Portinelly, Tatiane Melo, Vera L. Buzo, Newton Leite e Diogo Henrix.

Recomendo a leitura de “Simples Assim”, de Girvany; “Utopia”, de Xúnior Matraga; “Grito”, de Bispo Filho; “Em Meio ao Caos”, de Sued; e “Mesóclises e Outras Presunções”, deste macróbio que vos fala. Respectivamente:

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É Mestrando em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Sobre o bairro Areal:


Escrito partindo de um sonho na madrugada de 09 de novembro de 2016. E trabalhado no dias 15 de janeiro e 28 a 30 de abril de 2017.

domingo, 23 de abril de 2017

VÁ E NÃO PEC’s MAIS


Mariposas oscuras
En el cielo gris
Pero, no quiero rimar gris con anís…
Si hay que tener rima
Que sea la belleza de las mariposas obscuras
Con el cielo gris tranquilamente feliz.
- Hoje pela manhã eu vi uma correnteza de borboletas escuras. De toda a largura da rua, elas ocuparam apenas a metade do lado de lá.
- É? – Percebe-se o desinteresse na voz. – Quando foi isso?
- Era quando eu caminhava em um momento consumista em uma rua capitalista. Quando vi aquele monte de coisa marrom acinzentado no ar parei para ver o que era. “Serão folhas secas? Pó ‘especial’ da grande fábrica?”. Não, eram as ditas borboletas.
- Huuum!
- Quando alguém para assim, de supetão, a multidão olha curiosa. Por alguns segundos eles admiraram e eu em meus quase dois minutos de devaneio percebi também que muitos ignoraram a torrente e os que a viram logo se cansaram. Como? Era uma linda correnteza de borboletas.
- Huuum!
Depois de dois “huuuns” prefiro ir embora e falar com quem quer conversar as desimportâncias da vida. “Manuel de Barros, dê um pulinho aqui, por favor!”, digo pegando um livro para melhor me preparar para conversar com você, que me lê ou que me ouve:
- A tarde não havia correnteza. Não mais. O que existia foi uma ampla nuvem de borboletas escuras em um céu cinza. Não só no céu, próximo ao solo também; em todos os lugares elas estavam dando graça e beleza ao dia difícil para qualquer um que se indigna com o fim dos direitos à saúde, fim dos direitos à educação; fim dos direitos de greve. Fim do direito a ter direito. Mas elas estavam lá, em correnteza, em nuvens. E eu estou aqui, com você, firme em nosso dever de cidadão de não aceitar calados a impunidade dos déspotas.
- Mas agora o céu está sem borboletas. – Alguém me diz.
- O céu está sem borboletas, mas os escritores estão com a palavra e junto com os leitores pensamos, refletimos, filosofamos. Quem sabe, mudando...


Ofereço como presente aos aniversariantes
Sebastiana Silva, Daniel Bastos, Luzineth F. Alves, Jorge Horta, Ana L. Guimaraes, Jackie Silva, Girvany A. Morais, Térsio Greguol e Elizangela Batista.

Recomendo a leitura de “Fundo Falso”, de Xúnior Matraga; “Cuidado”, de Girvany; e “La Muerte Anunciada de Gabriel García Márquez”, de Javier Villanueva. Respectivamente:

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam
semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É Mestrando em Educação pela Universidad Europea del Atlántico. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Escrito no dia 31 de outubro de 2016. No ano seguinte, trabalhado no dia 22 de fevereiro e depois nos dias 22 e 23 de abril.

domingo, 16 de abril de 2017

SIGNIFICÂNCIAS DAS INSIGNIFICÂNCIAS

SIGNIFICANCIAS DE LAS INSIGNIFICANCIAS


Em português
Leitura do poema pelo autor:


- O sujeito indivíduo
E o sujeito gramatical.
Um é possível até odiar,
Mas o outro há que assimilar.
A pessoa veve
Uma pessoa vive
Há pessoas que valem Pessoa.
Eu li Raul Bopp
E ele me disse:
“... mulheres de ventre despovoados”¹.
Sou homem.
Meu ventre não se povoa
[Não sei o que é duas vidas em uma]
Mas minha seiva fertiliza
[Sei o que é se gastar.
(Ou será se dar?)]
- “É com você que quero falar...
Quando será a parada gay?
Tenho o que vender-lhes”.
Interrompe-me um não sei quem
Dizendo-me o que não sei.
[A vida é uma troca de desinformações.]
- Que interessa isso?
Cuido do meu corpo.
- Que corpo é o seu?
- É o corpo de vaivém.
- Corpo bom. Corpo bonito.
- E o seu, que corpo é?
- É o corpo de querzinho ficar junto.
- Só vaivém e querzinho valem?
- Tudo vale.
- Até a Vale e a Samarco²?
- Tirando coisas que nem se fala...
Só não vale não conversar.
Entre nós querzinho e vaivém
Numa grande cama.
- Ou um titinho tapete...
O que vale é o seu vaivém no meu querzinho.
- O que te vale o que você ama?
- Quanto vale alguém para te amar?
- Ai! Tudo é dor.
A companhia tem dor
A solidão tem ocasiões.
Jovem, energia descerebrada.
Velho, cérebro sem energia;
Vontade com pouca energia.
- Você é só... É fácil falar.
- Antes mal acompanhado que só.
- Antes só do que mal acompanhado.
- É fácil falar. Tudo é difícil viver.
- Rarrarrá!
- Do que ri?
- De sua insignificância querer significâncias.
- O que mais dizer depois disso?


En español
Lectura del poema por el autor:


- El sujeto individuo
Y el sujeto gramatical.
A uno es posible hasta odiar,
Pero, al otro hay que asimilar.
La persona casi vive
Una persona vive
Hay personas que son populus
Y hay populous que se valen Pessoa.
He leído Raul Bopp
Y él me dijo
“… mujeres de vientre despoblado”¹.
Soy hombre.
Mi vientre no se puebla
[No sé qué es dos vidas en una]
Pero mi savia fertiliza
[Sé lo que es gastarse.
(¿O será que es donarse?)
- “Es con usted que quiero hablar…
¿Cuándo será el día del orgullo gay?
Tengo cosas para venderlos”.
Me interrumpe un no sé quien
Diciéndome lo que no sé.
[La vida es un cambio de desinformaciones.]
- ¿Qué te interesa eso?
Cuido de mi cuerpo.
- ¿Qué cuerpo es el tuyo?
- Es el cuerpo de vaivén.
- Buen y guapo cuerpo.
- ¿Y el tuyo, que cuerpo es?
- Es el cuerpo de quierito quedarse junto.
- ¿Solo vaivén y quierito valen?
- Todo vale.
- ¿Hasta la Vale y la Samarco²?        
- Exceptuando cosas que ni se habla…
Solo no vale no charlar.
Entre nosotros quierito y vaivén
En una gran cama.
- O un pedacito tapiz…
Lo que importa es tu vaivén en mi quierito.
- ¿Qué te vale lo que amas?
- ¿Cuánto vale alguien para amarte?
- ¡Ay! Todo es dolor.
La compañía tiene dolor
La soledad tiene ocasiones.
Joven, energía descerebrada.
Viejo, cerebro sin energía;
Voluntad con poca energía.
- Tú es solo… Es fácil hablar.
- Antes mal acompañado que solo.
- Antes solo do que mal acompañado.
- Es fácil hablar. Todo es difícil vivir.
- ¡Jajajá!
- ¿De qué reis?
- De tu insignificancia queriendo significancias.
- ¿Después de eso hay algo a decir?


Ofereço como presente aos aniversariantes
Alessandro Lages, Maxwel Lopes, Scida Souza, Willian Alves, Joana Sousa, Silvia Gonçalves, Luzia Di Resende, Fernando Marinho, Don Lemuel, Osmar Solza, Antonio Carlos, Isabella Ribeiro, Michael Cobain, Bispo Filho, Meirilene Oliveira, Kênia Nicácio e Yuri G. Rodrigues.

Recomendo a leitura de “Candonga”, de Bispo Filho; “Onde a Gente se Vê?”, deste macróbio que vos fala; “Uma Surpresa ‘Desagradável’”, de Sued; “Missão do Artista” e “Profano Desejo”, ambos de Girvany. Respectivamente:

¹ Do livro “Cobra Norato”, de Raul Bopp. Ele participou da Semana de Arte Moderna; momento inicial da Arte Moderna no Brasil. Cobra Norato é considerado o mais importante livro do Movimento Antropófago; uma manifestação artística brasileira da década de 1920, teorizada pelo poeta Oswald de Andrade.
  Traducción libre de Rubem Leite de un trozo del libro “Cobra Norato” (cobra es culebra), de Raul Bopp. Él participó de la Semana de Arte Moderna; momento inicial de la Arte Moderna en Brasil, un importante movimiento literario y cultural de Brasil. Cobra Norato es reconocido como el más importante libro del Movimiento Antropófago; una manifestación artística brasileña en la década de 1920, teorizada por el poeta Oswald de Andrade.
² Vale e Samarco são duas indústrias brasileiras associadas. No dia 05 de novembro de 2015 uma das barragens (represas) se rompeu causando diretamente e indiretamente a morte de dezoito pessoas, um desaparecimento, inúmeros prejuízos e várias doenças. Ambas as indústrias se negam a se responsabilizar pelo desastre e menos ainda a indenizar as vítimas ou seus familiares.
   Vale y Samarco son dos industrias brasileñas asociadas. En el día 05 de noviembre de 2015 una de las represas (barreras) se rompió causando directa e indirectamente la muerte de dieciocho personas, uno desaparecimiento, incontables perjuicios y muchas enfermedades. Las dos empresas se niegan a responsabilizarse por el desastre y menos aún a indemnizar las víctimas o sus familiares.


Escrito entre 16 e 23 de outubro de 2016. E trabalhado entre os dias 04 de março e 16 de abril de 2017.

domingo, 9 de abril de 2017

PORÕES BEM SUBTERRÂNEOS

SÓTANOS MUY SUBTERRÁNEOS



Em português

- Oi, com licença!
- Oi! O que desejam?
- Somos de uma rede de pesquisa e gostaríamos de fazer uma breve entrevista.
- Tudo bem. O que querem saber?
- Tem religião?
- Sim, sou pastora da igreja.
- Tem partido político?
- Sim, me candidatei e acabei de ser eleita.
- Qual é a base doutrinária da sua igreja?
- Minha igreja diz que a desigualdade social, sexual e etc. é a Vontade do Senhor. Que só Jesus é o Salvador e que essas coisas africanas, de índio ou orientais não são de Deus. As comunidades quilombolas, por exemplo; estão tão cheias de pretos gordos, mas tão gordos que não servem nem para procriar. E ainda acham que podem proclamar a Verdade? Aleluia, Jesus! Por isso proclamamos a Palavra com amor. Glória Deus!
- E qual é sua base partidária?
- Meu povo! Meu partido, o PQP, visa garantir um estado obediente aos bons princípios da salvação cristã através do viés político. E também o enriquecimento da nação... Digo, o enriquecimento do país. Assim, vamos acabar com essas reservas indígenas que nos impedem de buscar as riquezas que lá estão subterrâneas. Meu povo! A soberania do país é a vontade de Deus e é a missão do PQP.
- Interessante... Para terminar, qual é seu nome?
- Patty. Sou Patty Faria.


En español

- ¡Hola, permiso!
- ¡Hola! ¿Qué desean?
- Somos de una red de encuesta y queremos hacerles una breve entrevista.
- ¿Qué quieren saber?
- ¿Tienen religión?
- ¡Sí, tenemos! – Habla el hombre. – Soy Pastor de la iglesia y ella es mi congregada.
- ¿Tienen partido político?
- ¡Sí! – Habla la mujer. – La iglesia fundó un partido político, me candidateé y acabé de ser electa con ayuda del pastor y de los votos de sus fieles.
Hablando con el primer:
- ¿Cuál es la base doctrinaria de su iglesia?
- Mi iglesia dijo que solamente Jesús es el Salvador y que esas cosas africanas, de indios u orientales no son de Dios. Dijo aún que la desigualdad social, sexual etc. es la Voluntad del Señor. Hay en algunos países comunidades de negros tan gordos que siquiera sirven para procrear. Y piensan que pueden proclamar la Verdad. ¡Aleluya, Jesús! Es por eso que proclamamos la Palabra con amor. ¡Gloria Dios!
Hablando con la segunda:
- ¿Y cuál es su base partidaria?
- ¡Ciudadanos! Mi partido visa garantir un estado obediente a los buenos principios de salvación cristiana a través del bies político. Y también el enriquecimiento de la nación. Así, vamos acabar con las reservas indígenas que nos impiden buscar las riquezas que allá están subterráneas. ¡Ciudadanos! La soberanía del país es la voluntad de Dios y la misión del partido.
- Interesante… para terminar, ¿cómo se llaman ustedes?
- Silvio Güenza!
- Pylloreta Bulario.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Rodrigo G. Fernandes, Lidia Mª F. Cruz, Arlete Santos, Tamara Oliveira, Cleiton Zambianchi, Demetrios N. Gualberto, Jeova P. Jesus, Simone Távila, Mariana Dias e Thayná Macedo.

Para saber mais sobre o fim de comunidades quilombolas e indígenas:
https://www.youtube.com/watch?v=zSTdTjsio5g

Recomendo a leitura de “Os Bichos”, de Xúnior Matraga; “Artifício”, deste que vos fala; “A (o) Invisível Trabalhadora – o”, de Sued; e “Antídoto”, de Girvany.

Escrito no início da noite que ainda tem o sol no horário de verão: 17 de dezembro de 2016. Trabalhado entre os dias 17 de fevereiro e 17 de março de 2017. E retrabalhado entre os dias 07 e 09 de abril do mesmo ano.

domingo, 2 de abril de 2017

PANELA NA VARANDA


Caso queira ouvir o cronto, no nosso canal no youtube – aRTISTA aRTEIRO – está publicado o vídeo com minha leitura da história:
https://www.youtube.com/watch?v=bTf1r0H7dww

Acima de mim um toldo branco; à minha esquerda, a barraca de riscas brancas e vermelhas do Marcelo; à minha frente, a lateral do palco; e no resto do Feirarte um lago de consumidores em suas mesas.
A minha mesa é amarela com forro azul e já tem algumas semanas que só recebe a mim. Vario-me entre a vontade de ter companhia e a satisfação de estar só com meus livros, comidas e bebidas. Encosto meu estômago e braços na mesa; sinto meu coração vibrar frutificando a acústica da dupla que canta.
- Frutificando?
- Achou bombástico? Enfeitado demais?
- Muito enfeitado... Perdendo o efeito.
- Mas você não estava só? – Talvez pergunte quem me lê. – Como apareceu então este diálogo?
- Conversando comigo mesmo.
- Ah, tudo bem então. Pode continuar.
- Obrigado! Então, já que achei sem efeito pelo defeito de tão enfeitado... Ficamos com Adélia Prado: “Qualquer coisa é casa de poesia”, diz ela.
- Agora sim você disse o que vale a pena.
- Então digo mais: “A borboleta pousada / ou é Deus / ou é nada”.
- Sim, sim. Algo bom de ouvir.
- Empolgado, continuo: A borboleta busca o alto do oiti / Digo porque sei o que vi / Mas sem sobressalto / Pouco passa do meio o seu mais alto. / Quem bate panela na varanda não sabe cozinhar.
- Assim, assim, isso sim. Adélia é bem melhor.
Adélia é tudo de bom a melhor, mas este poema é meu. – Fico aqui pensando, sem nada dizer, só pensando.


 Ofereço como presente aos aniversariantes:
 Wilma de Jesus, Márcio Miranda, Carla A. Santos, Luiz Felipe, Pedro Paullo, Leopoldo Comitti, Lúcio Braga, Rosane Dias, Mithswillian Paiva, Delsyn Carvalhais, Pascoal Gomes, Marcone Alvarenga, Carlos Passos, Malu Ricardo, Adalberto André, Carmen L. Souza e Nívea Paula.

 Recomendo a leitura de “Te Amo Como”, deste que vos fala; e “Casmurro”, de Xúnior Matraga.

Manuscrito no início da tarde de 26 de março de 2017 e trabalhado entre os dias 28 de março e 02 de abril do mesmo ano.