domingo, 24 de setembro de 2017

CANAÃ – TERRA PROMETIDA


Ninguém sabe que nada sabe e por isso se crê sabido.
Nadie sabe que nada sabe y por eso se cree sabido.
No one knows that he knows nothing and that's why he thinks he's smart.


Leitura pelo autor postado no canal aRTISTA aRTEIRO:

Na avenida Galileia um casal caminha abraçado. Ricardo, querendo mostrar-se:
- You are ears etching why you life acting up.
- Quê? – Sabrina pergunta.
- Eres la estrella que quiere ser hoja.
- Continuo sem entender...
- Primeiro falei algo da Turma da Mônica em inglês e depois um verso do poema Deseo, de Lorca.
- E o que disseram?
- Rirri. Não importa! Agora, veja outra: El tarado pelado pregunta: ¿Cojo la buseta o la picadura me coje?
- Ai, credo! Falando palavrão...
- Rirri. Né palavrão não. Falei em espanhol...
- É? O que você falou?
- Não importa. Foi só uma piada... Pensemos no verde das árvores aos domingos à tarde ouvindo um cd de Leo e Banda enquanto a gente come e bebe.
Sabrina se encanta com a humildade e sensibilidade do namorado. Humildade por não querer afrontar sua ignorância de línguas estrangeiras; e sua sensibilidade poética...
Ricardo se encanta com ingenuidade da namorada que não percebe sua vaidade.
E nenhum sabe que nada sabem por isso se creem sabidos.
Ainda assim e somente por isso continuam sua caminhada pelo bairro Canaã, mas nunca encontrarão a terra prometida. Enquanto isso, eu fico com a sibipiruna.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Maria Jany, João Gabriel, Devon Pendleton, Gustavo Barcellos, Solange V. Lopes, Adriana C. Martins, Flávia V. Paravidino, Jadallah Safa, Lucas Booktuber, Ranna Maia, Gilberto C. Fortes e Rodrigo Poeta.

Recomendo a leitura de:
“El que hereda no roba. El Infractor II”, de Javier Villanueva:
“Acinte ao Ódio”, deste macróbio que vos fala:
“Perdido Numa Manhã Qualquer”, de Girvany:
“Livro de Poesias”, de Xúnior Matraga:
“Benzedeira”, de Bispo Filho:

Turma da Mônica em inglês de fevereiro de 2017.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

A foto da árvore sibipiruna foi tirada pelo autor. A foto do autor foi tirada por Vinícius Siman.


Escrito no início da tarde de 12 de março e trabalhado entre os dias 11 e 24 de setembro de 2017.

domingo, 17 de setembro de 2017

ESPERANÇA – E ME DIZEM INTELECTUALIZADO

Foto do autor.


07 de setembro, Independência do Brasil (1822).
16 de setembro, Independência do México (1810).
18 de setembro, Independência do Chile (1810).
E o homem continua sem independência...

Él no puede comprender.
No puedo comprender.

He can’t understand.
I can’t understand.


Leitura pelo autor no endereço:

Uma noite cobriu o horizonte fora do horário previsto.
Ainda assim, seis e vinte da manhã sai de casa, na rua Lírio do Vale, para trabalhar. É cedo, mas já se vê as pessoas alheias ao todo no Esperança. “Esperança de quê?”, pergunta-se e ele se responde: “Esperança é só um bairro de Ipatinga...”.
O povo saiu para festejar com estes proclames: “Adeus, querida!”.
Surgiram PEC’s, aumentos salarias dos senadores, deputados, juízes, vereadores e seus similares. Os festeiros, para aposentar, quase cinquenta anos de trabalho. Isso se não adoecer ou perder o emprego.
Fecharam universidades; planos educacionais eliminaram disciplinas...
Ano passado foi proibido pela Secretaria de Educação de ensinar... Este ano está permitido... Mas na escola não há gramática, nem uma gramática. “Vou comprar do meu bolso, quinze”, sonhou. R$188,00 era a mais em conta. Três vezes mais barata era a gramática de inglês.
Não consegue entender.
Não consigo entender.
Os dias foram passando, mas não amanhecendo, não alumiando; noite; sempre noite. Mas vez ou outra uma lu...
- Vâmu trepá, irmão!? – Fala a puta cachimbada.
Ah! O poético soar fraternal...
- Não! Isto é incesto e sou contra. – Fala o poeta destarimbado.
- Ah! É ussinhô, professor! Cadê uscachorro?
- Estão em casa enquanto vou lecionar.
- Vida boa a dêlis, né?
- Pois é...
Responde e entra na E.M. Henrique Freitas Badaró. Nem se escandaliza com uma usuária prostituta às portas de uma escola; já antevendo a recepção dada pelos alunos.
Mas,
Vez ou outra uma luz, um raio que não chegava a raiar...
À noite, Patty Salas, cantora chilena habitante de Ipatinga, fugida de Pinochet e de suas torturas, tonifica a esperança; seu brilho tonifica na Praça Esperança, na Avenida Esperança, no bairro Esperança.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Creusa Melo, Edna Neves, Claudio M. Miranda, Wenderson Godoi, Vanessa Valentim, Bárbara Vilela, Mateus T. Sousa, Francisco P.A. Costa, Wolmer Ezequiel, Paulo A. Matlombe, Thiago Domingues, Mª Carmo F. Vaz, Erikes M. Sena, Vandelúzia L. Ferreira, Kéllerson de Paula e Edvania Oliveira.

Recomendo a leitura de “A Ideologia Alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels – resenha simplificada em série (parte 3)”, de Sued; “Cleriopatia”, deste macróbio que vos fala; “Incesto”, de Girvany; e, de Caio Riter: “Três Vezes Patronável” e “Sobre Censura”. Respectivamente:

Recomendo ainda a reflexão: Afinal, quem pode e quem deve falar de política?                                                                                (Beto Oliveira)
Recentemente Wagner Moura fez uma campanha alertando para os riscos da Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer. O artista foi imediatamente atacado por algumas pessoas e até mesmo pelo governo. Segundo alguns disseram, o artista deveria se preocupar em fazer filmes.
Outros disseram que, como comentarista de política, ele é um ótimo ator. Mas afinal, quem são os bons comentaristas de política? Quem deve se preocupar com a coisa pública, já que artistas devem se preocupar apenas com seu ofício? Será que há algum cabimento em determinar quem deve falar de política quando todos são afetados por ela?
Como resposta aos que o criticaram, Wagner Moura escreveu um texto, “Quem tem medo de artista”, que foi publicado na Folha de São Paulo. A primeira frase do texto já nos indica o centro da questão: “Artistas são seres políticos”, diz Moura, e prossegue convidando os leitores a indagarem aos gregos, a Shakespeare, a Brecht, a Ibsen ou a Shaw. Encontraremos em todos esses artistas um convite ao dramaturgo, ao ator e, no limite, a qualquer pessoa, a falar, a se interessar e a fazer política. 
Os gregos, por exemplo, tinham um bom nome para as pessoas (artistas ou não) que não se metiam com a política (com o que é público): Idiota. O prefixo “idios” vem de privado, particular (como na palavra idiossincrasia). Querer que o artista, o professor, o trabalhador, o analfabeto, o empresário, ou qualquer pessoa que seja, não se meta com política, é um convite para que ele seja um idiota.
O convite de Brecht, por exemplo, é exatamente o oposto. O dramaturgo alemão convida não apenas os artistas, mas todos, a se posicionarem politicamente. No seu texto “Elogio do aprendizado”, ele incita: “Verifique a conta / É você que vai pagar. / Ponha o dedo sobre cada item / Pergunte: O que é isso? / Você tem que assumir o comando”.
O ser político é o que coloca o dedo sobre cada item, o que pergunta quanto vai custar a reforma da previdência ou a maneira como se regularizará as terceirizações. O idiota, ao contrário, só se ocupa com seus afazeres, não com o que é público. Ele é o analfabeto político que aparece em outro poema de Brecht, aquele que não sabe que da sua negligência e desinteresse nasce a prostituta, o menor abandonado e o político vigarista.
Posicionar-se politicamente sempre deve ser mais indicado do que se calar. E no caso dos artistas, isso não é menos verdadeiro, concordemos ou não com o que dizem. No entanto, o artista muitas vezes tem um lugar especial na cultura, uma posição de fala e um poder de influenciar pessoas maior do que muitos de nós. Portanto, deve ter uma responsabilidade maior também.
A responsabilidade que todos devemos ter em não compartilhar mentiras ou em não sermos desonestos intelectualmente deve ser ainda mais cobrada de um artista; ou de qualquer pessoa ou instituição que detêm um poder de influência maior. Mas isso não tem nada a ver em incitá-los a calar ou em desacreditá-los por eles não se dedicarem apenas em fazer política.
Cobrar coerência, honestidade e respeito, enriquece todo debate político. Mas convidar alguém a ser idiota, ou seja, a só se preocupar com seus afazeres particulares, é ignorar completamente a noção de república. Querer que um artista seja idiota, que só se preocupe com a técnica do seu trabalho, é não compreender nada do que foi e do que é a arte. Algo típico de quem confunde arte com entretenimento (atividades que por vezes se coincidem, mas que são distintas) ou de quem age com má fé e está preocupado mais em combater a pessoa do que as ideias que essa pessoa defende.
* Psicólogo. Mestre em Estudos Psicanalíticos pela UFMG. Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço. Autor do romance “O dia em que conheci Sophia” e da peça teatral “A família de Arthur”. OLIVEIRA, Beto. Disponível http://www.diariodoaco.com.br/ler_noticia.php?id=49314&t=afinal-quem-pode-e-quem-deve-falar-de-politica . Acesso 07 Abr 2017.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Vinícius Siman.

Manuscrito nos dias 01 e 02 de abril de 2017, digitado no dia 05 e trabalhado entre os dias 15 e 17 de setembro do mesmo ano.

domingo, 10 de setembro de 2017

O POLÍTICO, A NAÇÃO E A CORRUPÇÃO

EL POLÍTICO, LA NACIÓN Y LA CORRUPCIÓN
THE POLITICIAN, THE NATION AND THE CORRUPTION


Leitura pelo autor do cronto em português e em espanhol:
Lectura por el autor del croento en portugués o español:


Em português

Em um restaurante um homem de cabelos cinza puxados para trás sorri. O telefone toca, olha o mostrador e sorri mais ainda mostrando dentes pontiagudos.
- Amor! (Pausa de segundos) Uai! Estou almoçando... (Outra pausa) Tomei o lugar da ex-chefe; não preciso avisar aos meus subordinados. (Mais pausa) Com ninguém não; estou sozinho, amor! (Pausa mais longa) Tchau!
Desliga o aparelho, chama o garçom, paga a conta. Entra no carro para ir para outro lugar que não seja a Empresa.  E faz tudo isso tendo a companhia e o sorriso de Solange.


En español

En un restaurante un hombre de canos pelos estirados para tras sonreí. El teléfono suena, mira la pantalla y sonreí más aun mostrando dientes puntiagudos.
- ¡Cariño! (Un rato de pausa) ¡Oye! Estoy comiendo… (Otra pausa) Tomé el cargo del jefe anterior; no necesito avisar a mis subordinados. (Más pausa) Con nadie; estoy solito, cariño. (Pausa más larga). ¡Hasta pronto!
Apaga el aparato, llama el mozo, paga la cuenta. Entra en el coche para ir a otro lugar que no sea la Empresa. Y hace todo eso tiendo la compañía y la sonrisa de Solange.


In English
Revision of Delsyn Carvalhaes.

Inside a restaurant, a man of grey hair pull behind smiles. The phone rings, he looks at the dial and smiles, more yet exhibiting pointed tooth.
- My Darling! (Short pause) I lunch… (Other pause) I take place of the ex-boss; I not need inform my subordinates. (More pause) I with anyone; I’m alone, my darling! (Pause more long) Bye-bye!
He turns telephone, he talks “waiter, check please”. He enters in car to go to other place as not firm. The man makes all has with a company and smile of Solange.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Jamil Boali Mattar, Heloise Guerra, Kenia Junia, Vera Almeida, Willian Delarte, Michael A. Monroe, José D. Carmo, Lucy Cristina, Wagner G. Mineiro, Jeferson Santos, Geórgia A. Bastos, Ricardo Alves, Wina Lidiane e Deise Brenda.

Recomendo a leitura de “A Felicidade no Contexto da Razão”, de Josué da Silva Brito; “Prazeres e dores”, de Vinicius Siman; “Autonomia”, deste macróbio que vos fala; “Libertação”, de Xúnior Matraga; “Hugo Pratt en la Argentina”, de Javier Villanueva. Respectivamente nos endereços:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Escrito 18 de maio de 2016 e trabalhado entre 20 de junho e 10 de setembro de 2017.

domingo, 3 de setembro de 2017

BELA VISTA – PROBLEMA RELIGIOSO DE NOSSOS DIAS – II


Continuação.

¿Es posible discutir lo que ignora? No; por eso intentan impedir discusiones sobre respeto al distinto, a la mujer y otras cosas más. ¿Cuál es el motivo de intentar retirar algo que no se encuentra allá y acrecentar prohibición a cualquier discusión sobre género? ¡Piense! ¡Piense! ¡Piense! Observe el hecho de los curas y pastores presentes exigieren prohibición y sus seguidores solamente gritaban sin conocimiento. Interesantemente triste es observar que no aceptaban dialogar. Toda vez que apuntábamos los hechos la respuesta era chifla. ¿Por qué abucheo? Porque no tenían como argumentar. Y no pudieron argumentar porque no saben reflexionar, filosofar.
Un rato mirando alrededor y sentido en el hombro, como una aprobación, la flor que se desprendiera del árbol.
¿Y qué discusión puede ocurrir sin conocimiento del asunto?
Es importante no tener miedo de mirar; y coraje para ver.

Leitura pelo autor postada no endereço:

O dia continua lindo debaixo do ipê amarelo e a conversa continua pesada; todavia, Benito não se cala:
- A discussão acerca da literatura anticlerical portuguesa nos ajuda a refletir abertamente e menos contaminado sobre o problema religioso de nossos dias.
- Já vem você com esse papo de literatura...
 - É Adão, continuo sim. E como exclamei não faz muito tempo: observe que falei “cristãos” e não “Cristianismo”, pois o problema é que seus frequentadores não a seguem. Apenas falam, falam e falam... Outro ponto, a discussão na Câmara Municipal não era “respeito aos homoafetivos”. Aliás, o plano sequer falar de sexualidade, que inclui homem, mulher, masculino, feminino, heteroafetividade, homoafetividade, violência contra a mulher, violência contra o homoafetivo e muito, muito mais, e os cristãos ali foram discutir o que não estava no plano... Eles foram discutir o que ignoravam. Como isso é possível? Não é; e por isso vaiavam os fatos e os esclarecidos.
- Ando com a religiosidade em baixa. – Entra na conversa o até então calado Jairo. – Mas penso que Cristo lutou exatamente para acabar com os rótulos.
- Exatamente por isso que digo que cristãos não seguem Cristo...
- Autodenominados cristãos, com “c” bem minúsculo. Usam o nome dEle para ganharem notoriedade e credibilidade para fazerem o mal.
- Só não sorri com sua fala porque ela é triste, Jairo. Concordo contigo.
- Estamos juntos.
- Não são cristãos apenas, Benito e Jairo. – Diz Salomão. – São fundamentalistas, ignorantes, manipulados e cheios de ódio.
- Não sou cristão, mas você os chama de ignorantes e estúpidos, afim de que algum aqui o xingue para reafirmar sua tese ou de alguma forma, o ego. Fico em duvida se isto e hipocrisia ou idiotice.
- Eu os xinguei, Elson? E por insultá-los eles retaliariam? Xingar seria se eu tivesse dito sobre eles coisas de baixo calão. Sugiro que, por gentileza, olhe no dicionário os significados das palavras “estúpido” e “ignorante”. Verá que não houve ofensa. Aproveite e veja também o que seja “ofensa” e aí perceberá quando ela ocorre. Porque dizer fatos não é ofender; é ser duro. E a realidade é dura. A verdade é dura. Por gentileza, olhe nos dicionários e verá coisas boas e bem interessantes.
Necessário dizer que nos olhamos irritados? Penso que não, mas se precisar eu digo: Estávamos à flor da pele; não à flor do ipê... E continuo:
- Mas pode observar, Elson, que ninguém falou mal deles, mas de mim. Por que será? Hipocrisia minha? Será!? Por que eu estaria sendo hipócrita em expor algo que eu sabia que se voltaria contra mim? E sabendo disso por que falei? Por idiotice minha? Veja também o que significa “idiota”. Do pouco que você me conhece viu algo que possa corroborar esta sua ideia a meu respeito? Então a “minha” tese teria saído pela culatra porque fui apenas vilipendiado e meu ego estaria ferido, não reafirmado. Então, qual a causa de eu ter falado o que disse? Crê realmente que foi por vulgaridade? Vontade de falar mal? De criar polemiquinha?
- Embora você tenha tido suas experiências com cristãos, ou talvez pessoas que se acham cristãos, a sua fala é generalista. Benito, o cristão é alguém que imita Cristo, e Cristo foi manso no seu tratamento com pessoas diferentes, mesmo com pecadores. Mas eu não estou a par de tudo o que vem acontecendo com você e então acho que só posso falar daquilo que você está dizendo aqui, neste momento, debaixo deste ipezinho no Bela Vista. Mas, como disseram agorinha mesmo, o cristão também é um ser humano, e por isso sujeito e erros, como também é o homossexual, o irreligioso, o ateu, o judeu, e todos outros.
- Pascoali, concordo com o que disse. Principalmente quando falou que o cristão imita Cristo e que Ele foi manso inclusive com os diferentes. O que não acontece, nunca aconteceu e pelo andar da carruagem será difícil que um dia venha a acontecer. Peço perdão se lhe ofendi ao dizer que não acontece. Até porque toda regra tem exceção. A questão é que as exceções pouco ou nada fazem enquanto a regra é atuante. Sabe por que o mal avança mais que o bem? Observe ao redor, e não apenas ao redor dentro da Igreja durante o momento de culto ou missa, e verá que não estou inventando ou exagerando. O mal avança mais que o bem porque os bons ficam aguardando alguém que faça enquanto os maus não esperam, fazem. Quando eu era criança, adolescente, jovem... eu acreditava que os cristãos imitavam ou procuravam se espelhar em cristo. Hoje, no meu quase meio século, vejo que apenas berram “Jesuuuus”, mas ação mesmo que é bom, não. Talvez você seja a exceção, parabéns! Mas a regra se comprova não por minhas palavras, mas pela ação dos cristãos.
Mais um golinho de vinho à brisa debaixo do ipê e Benito continua:
- Ontem, por exemplo, houve uma reunião para discutir se deve ou não ter discussão de gênero nas escolas e a população cristã foi à câmara para proibir isso. O interessante é que no plano sequer aparece a palavra gênero. De onde eles tiraram isso? Da leitura do plano é que não foi porque se tivessem lido veriam que não consta essa questão. Inventaram; sim, o termo é IN-VEN-TA-RAM que o plano iria obrigar os alunos usarem o mesmo banheiro (unissex), que menino seria tratado como menina e menina seria tratada como menino. Quem bolou ou concebeu tamanha tolice? Alguém que não leu o plano ou que planejou abafar as discussões sobre gênero; que não fala apenas de homoafetividade, mas também de heteroafetividade; fala mais do que isso, fala de masculino e de feminino, fala, entre outros assuntos, do estupro dentro de casa, estupro na escola, estupro nas ruas, pedofilia e muito mais; fala do respeito ao diferente, à mulher e muito, muito mais. Qual o motivo que queriam retirar algo que não estava lá e acrescentar uma emenda que proibisse qualquer discussão sobre gênero? Pense! Pense! Pense! Atente-se pelo fato que os Padres e Pastores presentes queriam impor tal emenda, mas seus seguidores apenas gritavam sem saber. E interessantemente triste é observar que não aceitavam dialogar. Toda vez que mostrávamos os fatos a resposta era vaia. Por que vaia? Porque não tinham como argumentar. E não puderam argumentar porque sequer leram. Porque não sabem pensar, refletir, filosofar. Afirmo que não leram porque não sabiam o conteúdo do plano e quando perguntado, confirmaram! – Pausa olhando ao redor e sentido no ombro, como um apoio, a flor que se desprendera da árvore. – Eles mesmos afirmaram que não leram e aqueles que disseram que leram não souberam responder às perguntas que fizemos sobre o plano... E que discussão pode acontecer sem conhecimento do assunto?
- Ah, não Benito – intervém Manoela – deve ter alguma pândega em toda essa pendenga.
- Bem... Talvez a única coisa boa na Bíblia seja que Jesus torce pelo Galo e os... ahm, “cristãos” sejam cruzeirenses...
- Como é que é?
- Uai! Está na Bíblia, São Lucas capítulo 13... – vendo a cara de espanto, Benito recita: “Jerusalém! Quantas vezes quis juntar o povo, como a galinha – excelentíssima senhora dona esposa do GAAALOOOOO – ajunta os seus filhotes debaixo das asas, mas você, cruzeirense, não me quis...”. – Entre as risadinhas dos amigos, ele continua: E tem mais. É nesse mesmo capítulo que Jesus solta um palavrão... Pior que xingar a mãe... Ele assim fala sobre Herodes, que se equipara palidamente aos cristãos de nossos dias: “Vai e diga àquela raposa”. Viram? Quer coisa pior que raposa?
O pessoal ri, até os cruzeirenses, meio a contragosto, diante do amaciante na dura e pesada conversa.
- É só uma bobagem, gente. É só um chiste. E...
- Estão criando essa polêmica, usando essa questão do gênero apenas para se promoverem, Benito... Apenas para se promoverem.
Marialva corta o assunto e Marissol completa:
- Quanto maior a ignorância, melhor tem que agir um professor. Ensine; não crie polêmica!
- É o que os professores tentam fazer e a bancada não deixou. É o que queremos fazer e os coxinhas não aceitam.
- Há uma esperança. Nem todos são assim.
Continua Marialva e Mário abre sua boca em uma tarde que poderia ter sido tranquila:
- Quando você fala “cristãos”, você está entrando para o grupinho que você abominou.
- Benito, não me agrada o que você disse. – Intervém o até então calado poeta Jurandir. – É necessário muito cuidado na comunicação e você, pessoa que admiro e o inteligente que é, desconsiderou esse cuidado e viés. O mal não pertence aos cristãos. Pertence ao bípede supostamente racional. Uma propriedade nata e não se passa de pai para filho... Mas Deus, perfeito que é, fez metamorfa a humanidade, apesar de divina na essência. Uns fazem uso dessa santidade e outros a ignoram. Quem usa dessa divindade é cristão; os que a ignoram são só... “gente”.
Ele para alguns segundos enquanto olhamos o ipê florido e bebemos. Depois ele continua:
- Qualquer pessoa, seja boa ou má, é “gente”, e a divindade é propriedade ativa e constante do “humano”. Então são esses humanos os “cristãos”. No meu livro “Quase Verbo”¹ eu o abro com uma mensagem que tento exercitar no meu cotidiano – ele pega o livro e lê: “Não nasci para ser herói / Nasci para ser humano.” E essa mensagem é um convite para essa pertinente discussão. Até porque estamos juntos na luta e sua fala é convite para uma reflexão interior.
- Jurandir! – Benito retorna à fala. – Dissemos coisas muito similares em vernáculos diferentes. Muito parecidas mesmo. E é como venho dizendo: A discussão acerca da literatura anticlerical ajuda a refletir sobre o problema religioso da atualidade.
- Por isso você é um desses amores amigos que trago no peito.
Jurandir responde e tranquilamente se volta para dentro de si depois da contrarresposta de Benito:
- A questão é: observamos o contraste e ignoramos os similares.
 Macieira intervém:
- Gostaria de ver os bons cristãos em ação, assim saberemos que de fato existem.
- Falou bem, Macieira. Porque o mal avança por causa dos bons. Enquanto estes ficam de braços cruzados esperando alguém fazer alguma coisa, aqueles trabalham para realização de seus objetivos. É só ver o acontecido na Câmara Municipal... É só ver o religioso prefeito dançando diante da amargura dos aposentados. É só vê um juiz inocentar o tarado ejaculador no ônibus. É só ver o religioso Bolsonaro dizer que seus filhos são bem educados e servos de Jesus; por isso não namorariam uma negra.
O vento balança a flora ao redor e os livros a cabeça de quem tem.
- É só não ter medo de olhar; e ver.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Cleverton Nunes, Matheus Menezes, Didi Peres, Gabi Hipólito, Chrika de Oliveira, Heloísa Martins, Tamirys Fernandes, Lourenço Godoi, J. Petrônio Pethros, Guilherme R. Cabral, Andrea G. André, Maxwell Martins, Wemerson Dias, Elizabeth Z.C. Valverde, Emília Domingues, Dione Costa, Monica Novaes e Wantuil J. Sousa.

Recomendo a leitura de “A Ideologia Alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels – resenha simplificada em série (parte 1)”, de Sued; “Celebração”, de Girvany; “Oração Ateia”, de Xúnior Matraga. Respectivamente:

¹ BARBOSA, Jurandir. Quase Verbo. São Paulo: Catrumano, 2014.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Foto do ipê é do autor.

Escrito na noite de 15 de julho de 2015; trabalhado um pouco em algumas madrugadas de 2016, mas realmente construído entre 23 de agosto e 03 de setembro de 2017.